Es una
eternidad
Era
o mês de março de 1986 e eu tinha acabado de ganhar uma passagem de cortesia
para Santiago do Chile. Não se pode perder uma oportunidade como essa. Lá fomos
eu e minha esposa conhecer a famosa cidade chilena. Após desarrumarmos as
malas, saímos do hotel e pegamos um táxi para darmos uma volta e, assim, conhecermos
o centro e arredores.
Um
ano antes, em 3 de março de 1985, um terremoto de 7.7 graus na escala Richter tinha
assolado a região, matando dezenas de pessoas e ferindo centenas. Mais de um
milhão de edificações destruídas. O motorista ofereceu-se para ser nosso guia
turístico e começou a explicar os pontos históricos e culturais. Logo no
segundo quarteirão, entretanto, vimos um enorme racho num edifício.
Imediatamente perguntamos o óbvio. Aquilo? Tinha sido o terremoto? Claro que
sim, ele afirmou. Aquilo não era nada.
Com
nosso “portunhol” pedimos que ele explicasse mais. Onde ele estava, o que havia
sentido? Gesticulando muito, disse que parecia o final do mundo. Era como se o
chão estivesse sumindo sob os pés. Um pânico indescritível.
-E
quanto tempo demorou isso tudo?
Ele,
segurando firme a direção, como se o terremoto ainda estivesse ativo, olhou
para trás e mostrou dois dedos.
-Dois
segundos?
Achamos
muito rápido, é claro. Principalmente se considerarmos toda aquela destruição.
Ele confirmou, sim, dois segundos.
Quase
sem pensar, falei o que veio à cabeça:
-Dois
segundos? Só isso?
Ele
olhou para trás, olhos esbugalhados, e falou em espanhol simples e claro:
-“Es
uma eternidad...”
o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o0o
Essa vida da gente
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