Um
carro cheio de luzinhas
Um
carro cheio de luzinhas
Juan
atravessou a fronteira e entrou nos Estados Unidos. Queria trabalhar e mandar
dinheiro para a família. Seu primo Miguel acolheu-o em sua casa, conseguiu
arrumar um emprego para ele. Trabalhou duro durante muito tempo. Finalmente
tinha o suficiente para comprar um carro “moderno”, como ele dizia. Claro que
era usado e tinha muitos anos de vida, mas isso é porque os americanos já faziam
carros modernos há muito tempo. Tinha uma boa milhagem também, advertiu seu
primo Miguel. Segundo ele, que olhou na internet e tudo mais, com aquelas
milhas dava para o automóvel ir para a Lua. E já estaria voltando. Grande
coisa, argumentou o Juan. O homem não tinha ido para a Lua também?
O
mais bonito mesmo era que aquele carro tinha uma luzinha para cada coisa. Nem
precisava de diagnóstico de mecânico nenhum. Além das luzes normais, que
indicavam o nível do óleo, as setas, etc., ele tinha outras para problemas que
você nem imagina: transmissão, breques, sensor disso, sensor daquilo, tração...Tudo
que você possa imaginar. E todo dia uma luzinha acendia. Você sabe como é carro
velho. E o Juan ia se virando. Coisa simples, ele mesmo consertava. Um pouco
mais complicada, pedia para algum amigo mexicano. Quando não tinha jeito, ia
até um mecânico conhecido. Só não dava para ir até uma oficina americana. O que
eles cobravam por hora, ninguém aguentava pagar. Se ficasse lá o dia inteiro,
nem vendendo o veículo, o dinheiro seria suficiente.
Após
algum tempo, algumas luzinhas o Juan deixava de lado. Se era coisa que deixava
o carro continuar rodando, ele não consertava. Era até bonito ver aqueles
avisos todos lá, piscando. E cada dia havia uma luz nova, além das que já
estavam acesas.
Um
dia, de manhã, Juan ligou a chave do carro e deu partida. Todas as luzinhas se
acenderam de uma vez. Se não fosse pelo susto, até que era bonito. O painel até
parecia uma árvore de Natal. Ele acelerou, mas o motor fez um barulho esquisito,
e depois parou. Todas aquelas luzes piscaram de novo, todas de uma vez, e
depois se apagaram. Para sempre.
Foi
uma tristeza. O valor do carro, do jeito que estava, mal dava para pagar o
guincho que o levou embora. Mas que era um carro bonito e moderno, ah, isso ele
era. E era cheio de luzinhas, o danado!
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Essa vida da gente
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