Um
piano e uma carruagem chamada Porchê
(qualquer semelhança com pessoas e fatos da vida real pode
ser mera coincidência... ou não)
Era uma vez um reino muito
grande. Havia lá a plebe, que ninguém conhecia, o rei e muitos nobres sem
nobreza. Esses últimos eram
multimilionários. Chamá-los somente de “ricos” era quase uma ofensa. O matemático
da Corte uma vez fez uma conta. Um plebeu teria de viver três vidas trabalhando
para ganhar o mesmo que eles gastavam em dez minutos, Talvez isto seja uma
lenda. Difícil de acreditar.
Nunca ninguém ousava mexer
om os nobres. Havia um, porém, que fez muita coisa errada. Não com o povo,
claro, isso não importaria. Ficou devendo para o rei e para outros como ele.
Isto era inadmissível. Um juiz se encarregou de recolher todos seus bens, vendê-los
e, com o dinheiro apurado, ressarcir os credores. Assim foi feito. O Nobre
Bautista deixou de ser milionário para ser apenas rico, o que era uma coisa
assustadora.
Entre os bens apreendidos
do já não tão nobre senhor, havia uma linda carruagem e um majestoso piano.
Como o Bautista gostava de nomes franceses, tinha dado o nome de “Porchê” para
ela. Não que carruagens tivessem nomes, mas a dele tinha.
Um dia, numa das estradas
do reino, um escrivão real viu o juiz passeando com a carruagem apreendida.
Estava claro que ela não estava tão apreendida assim. Investigaram e descobriram
que também o piano do Bautista estava em alguma casa perto do juiz. Algum
fofoqueiro foi logo contar para o rei, que imediatamente chamou o magistrado.
Por que ele estava usando a carruagem e o piano do Bautista, sendo que aqueles
eram bens pertencentes ao reino?
O homem da lei explicou
tudo com muita candura e clareza. A carruagem e o piano estavam tomando chuva,
iriam se estragar ao relento. Por isso, ele, cuidadosamente, os recolheu em seu
seguro lar.
Dizem que o rei, por não
ter outra explicação e, sendo aquele um homem que entendia de leis, aceitou,
provisoriamente o que foi dito.
A plebe, por um acidente
de comunicação ficou sabendo do ocorrido. Não houve protesto ou indignação.
Tudo que eles comentavam, era que a carruagem tinha um nome francês. Que o
piano era do estrangeiro e valia muito dinheiro. E o povo se admirava com
aquelas histórias maravilhosas. Era tão bonito ser nobre, era tão bonito poder
andar de carruagem. Mais bonito ainda era ter um piano em casa.
Ninguém sabe, por
enquanto, se os bens vão ser vendidos, ou se o magnífico juiz será seu guardião
perpétuo
Viva o rei, viva o
reinado, viva o juiz!
A plebe, eu não sei onde
ela mora, mas ela continua encantada com os contos dos nobres e suas deslumbrantes
carruagens.
ooooooOOO0OOOooooo
A crônica acima não faz parte do livro abaixo
Essa vida da gente
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