Dona Eleta
Como ela era uma pessoa muito discreta, não queria falar o nome dela. Mas sabe de uma coisa? Preciso falar, pois ela precisa ficar registrada nos documentos da vida como uma pessoa de fé. Seu nome era Eleta. Dona Eleta. Como todas as mães, preocupava-se excessivamente com os filhos. Todo o tempo pensando neles, querendo saber como estavam, se tudo corria bem. Três homens, três preocupações, nem sequer uma filha mulher para fazer companhia, para compartilhar. Como ela era católica tenho que dizer que ela “rezava”. Mas rezava muito. Eu acho que ela também “orava”, se é que existe alguma diferença. Não pense que ela pedia e depois ia descansar. Não, ela não parava nunca, pedia, pedia para Deus... pelos filhos e pelos amigos e por quem precisasse. Era muita fé, como nunca vi em outra pessoa. Dona Eleta era minha mãe e ela já faleceu. Ela não gostava de dar trabalho para ninguém, só gostava de ajudar. E isso já é outra história. Um dia sentiu-se mal e depois de alguns minutos foi levada numa ambulância para o hospital. Morreu no caminho. Não quis dar trabalho em casa, não quis dar trabalho no hospital, não quis dar trabalho para ninguém. Se Manuel Bandeira a tivesse conhecido, ao invés de Irene, teria colocado o nome dela no poema dele: “E São Pedro bonachão:- Entra, Eleta. Você não precisa pedir licença.”
Voltando às orações, meu irmão tinha uma teoria sobre as orações de nossa mãe. Segundo ele, a Dona Eleta rezava tanto, tanto, que a uma certa altura, Deus, mesmo sendo Deus, e me perdoe se estou blasfemando, não conseguia ver aquela mulher rezar sem parar. No final da noite, depois de muitos dias, mesmo que fosse uma graça ou benção que tivesse de esperar, Deus, na sua infinita bondade, ficava cansado de ouvir tanto a mesma oração e mandava uma mensagem para Dona Eleta: “Está bem, Dona Eleta, não precisa mais rezar, amanhã de manhã, sem falta, vou enviar sua benção.” Ela dava então um pequeno sorriso – porque eu sei também que ela conversava com Deus – e Deus ia dormir. Mas a Dona Eleta, mesmo assim, continuava rezando até de manhã, quando a graça ia chegar, só para garantir.
Dona Eleta, a senhora não sabe a falta que faz...
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À procura de Lucas (Flávio Cruz)
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Emocionante sua crônica. Mãe, a gente nunca esquece, passe o tempo que passar. E Dona Eleta, onde estiver deve te adorado esse texto carinhosamente escrito sobre ela. Gostei de rever a "igreja Santa Rosa de Lima", em Perus, fiz minha primeira comunhão e me casei nessa igreja. Uma boa noite a vc, Flávio.
ReplyDeleteQue tempos eram aqueles, a gente era feliz e não sabia, né Flavio? Hoje cada um com suas preocupações, parece que aquele tempo ficou tão longe de nós, sem internet, celular, a violência das cidades grandes... como eu queria que tudo voltasse a ser como antes... Grande abraço, Flavio.
ReplyDeleteMinha avó mãe =)
ReplyDeleteDisse o Padre que todas as missas ela levava lindas flores colhidas de seu jardim à igreja, para enfeitar a casa de Deus, certamente seria recebida com muitas lindas flores no jardim do céu. Amém!