A Nova Vida de Sara
A
Nova Vida de Sara
Há
males que vêm para o bem. Diziam isso antigamente e ainda é verdade. Era o que
Sara achava dos recentes acontecimentos em sua vida. Passou por aquele acidente
horrível, mas no final deu tudo certo. Antes era uma depressão total. A vida
parecia não ter sentido, não havia motivação para nada. Lá no fundo desconfiava
que o acidente tinha sido causado por ela mesma. O que alguns “cientistas da
mente” chamavam de “suicídio por descuido proposital”. Claro, não havia mais
psicólogos ou psiquiatras, agora era assim que os chamávamos. Afinal o mundo
estava completamente diferente neste começo de século 22 e aqueles termos eram
coisa do século passado.
Voltando
à Sara, ela estava completamente curada. Mais do que isso. Agora ela tinha uma
vida de verdade, cheia de motivação. Ainda por cima, quase por milagre, aquela
grande amiga de sua juventude, a Aurora, havia se mudado para bem perto da casa
dela. Sara desconfiava que aquilo tinha sido coisa dos tais de “técnicos
sociais”. Aurora confidenciou que uns
funcionários do governo a visitaram. Andaram fazendo perguntas sobre sua
solidão, o que estava sentindo e quando percebeu, estava sendo convidada para
se mudar. E surpresa: bem ali, pertinho da sua grande amiga, a Sara. Estavam
numa felicidade indescritível, parecia até uma coisa do outro mundo. Todos os
problemas haviam desaparecido como por milagre. Faziam coisas juntas a maior
parte do tempo. Divertiam-se a valer, não tinham com o que se preocupar.
Monotonia era coisa de um outro mundo, distante, Sara e Aurora nem sabiam mais
o que era isso.
Para
não dizer que tudo era 100%, ultimamente a Sara estava experimentando vez ou
outra, durante algumas frações de segundo, uma coisa um pouco estranha. Não era
coisa que incomodasse, mas dava para se perceber que estava acontecendo. Era
como se tudo parasse naquele lapso de tempo, como se a realidade inteira, tudo,
se congelasse. Não doía, não incomodava, portanto tudo bem. Era como você
estivesse assistindo a um filme e de repente houvesse uma pequena “pause”.
Se
você considerar a gravidade do acidente pelo qual Sara havia passado, aquilo
não era nada. Até seu cérebro foi parcialmente afetado. Levaram um tempo mais
do que o normal para reconstituir tudo. Apesar de os acidentes serem
raríssimos, as equipes médicas conservavam todas as técnicas e equipamentos
como se fosse tudo uma rotina.
Na
grande sala de “Controle de Atividades Virtuais”, Norton acabara de informar
seu supervisor que estava havendo uma pequena falha, quase imperceptível, na
programação da unidade VL1345. Havia um problema na sequência temporal, para
ser mais preciso, uma “nanofalha”, quase imperceptível. O supervisor avisou
para Norton que nenhuma falha era admissível. Todo o programa teria de ser
refeito.
Sara
era a unidade VL1345. E, de repente, sentiu um sono danado e ouviu uma espécie
de “voz interior” dizendo para ela ir para casa descansar.
Na
sala de controle, Norton reprogramou todas as atividades virtuais de Sara,
dando ênfase para o fator do tempo. Checou o programa, agora estava perfeito.
Só para se certificar, resolveu verificar a parte de hardware e também o
“elemento biológico”. Entrou na sala própria, abriu o compartimento e lá estava
o cérebro de Sara num cilindro de acrílico com todas as conexões necessárias.
Norton pensou consigo mesmo, como aquela mulher havia conseguido destruir seu
corpo inteiro daquele jeito? Quase perdeu o próprio cérebro. Sorte dela que
eles conseguiram reconstituir o pouco de massa cinzenta que ela havia perdido.
E mais sorte ainda era que o seguro dela era dos bons. Ligou o os sensores de
teste para “elemento biológico” e segundos depois, pode notar que estava tudo
em ordem, que o cérebro de Sara estava perfeito. Segundos depois reativou a
vida virtual de Sara.
Sara
acordou extremamente disposta e logo a seguir chamou sua amiga Aurora para dar
uma volta. Assim que se encontraram na rua, Sara deu um beijo na face da amiga,
suspirou, e disse com alegria:
-Aurora,
como nossa vida é boa! Eu gosto de viver!
E
as duas deram uma grande gargalhada de felicidade...
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Estranhas Histórias
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