Saturday, December 22, 2012

Uma carta estritamente familiar



Uma carta estritamente familiar

Querido pai:
A nação é como se fosse uma mãe.
O governo é como se fosse um pai,
 aquele que toma as decisões no dia a dia.
”(Nino Belvicino, em alguma de suas obscuras obras)

Quando eu estava morando com você, havia coisas que eu não tinha coragem de falar. Além disso, estava envolvido com meus estudos, pensando na carreira, etc...Nessa época meu senso crítico não funcionava com clareza. Agora entendo quase tudo o que aconteceu. Não vá ficar chateado com o que vou escrever, estou dizendo isso apenas para seu próprio bem.
O primeiro e mais importante conselho que eu queria dar é sobre essa mania que você tem de se intrometer na vida dos vizinhos. Dizer para eles que é assim ou assado, dizer para eles qual é o “jeito certo de fazer as coisas”. Pelo amor de Deus, pare de falar para eles como educar seus próprios filhos, de dizer o que é certo ou errado. Pior ainda: você se lembra daquele pessoal que mora logo ali, descendo a rua? Só porque eles não quiseram seguir o seu conselho, você fez a maior confusão...Obrigou todo mundo da rua a não falar com eles, não fazer negócios e um monte de outras coisas? Bem feito para você! Eles sobreviveram, apesar de tudo isso, e não estão nada piores do que os outros da rua. Tem gente que acha até que, em algumas coisas, eles estão bem melhores. Enfim, não se pode intrometer desse jeito nas coisas dos outros. Foi tudo tão absurdo que até pensei que o seu problema era com a barba comprida que o homem tinha. Mas não pode ser...seria um absurdo!
Tem mais. Depois que saí de casa, contaram-me umas coisas que são difíceis de engolir. Eu não me lembro muito bem porque eu acho que era muito pequeno quando tudo aconteceu. Fiquei sabendo que você se intrometeu numa briga feia que houve lá no fim da rua. Era uma briga de família e você mandou umas armas para a esposa. O que você queria? Que ela matasse o marido? Pois fique sabendo que quem morreu foram dois dos filhos. Os pais acabaram se entendendo e quase não brigam mais. Mas não por causa de você. Além disso, você emprestou dinheiro para a mulher para ela ficar em vantagem em relação ao marido. Até outro dia eles ainda estavam pagando a dívida. Dizem que um dos filhos nunca pode chegar até a faculdade por causa dessa dívida. Meu Deus, como você teve coragem?
Como se isso não bastasse, você andou se intrometendo até na outra parte da cidade. Com todo respeito, como você foi meter o seu nariz num lugar tão longe? Fez o mesmo que fez com nossos vizinhos: mandou armas. E como se isso não bastasse, você foi lá, pessoalmente, se meter na briga. O que você tem de se intrometer se eles estão brigando entre si? Se um prefere o azul e o outro o vermelho, não é problema seu. Você machucou pessoas lá e você acabou se machucando também. Viu o que dá meter o nariz onde não é chamado? Até o pessoal de sua casa estava zangado com você. Perdeu tempo e dinheiro lá. Pensa que eu não sei que o pessoal lá em casa passou aperto? Acho até que passaram fome.
Depois de tudo isso, eu pensei que você tinha aprendido. Que nada. Continua se metendo em brigas dos outros. Outro dia, ouvi dizer, havia uma família que nem estava brigando e você foi lá, invadiu a casa e andou matando gente! Até pessoas da sua própria família andaram morrendo! Ainda bem que eu não estava em casa. Você se lembra de que um dia me falou que não me reconhecia mais como seu filho, eu podia ir embora? Foi sorte minha. Se estivesse lá quando você invadiu a casa da dona Ira...Que teria sido de mim?
Você sabe, melhor do que eu, o resultado de tudo isso que andou fazendo. Ficou todo endividado. Que vergonha! Pensa que eu não sei que você deve um monte de dinheiro para aquela mulher que gosta de usar vestido com tons de vermelho? É isso mesmo, aquela que entrou na briga das cores, azul versus vermelho. Você brigou com os amigos dela e depois precisou emprestar...Que vergonha! Ainda bem que nessa questão de cores ultimamente você aprendeu alguma coisa. Você viu como todas as cores são bonitas? Por que brigar?
Eu sei que você está com problemas financeiros. Sei também que no fim você dá um jeito. Por outro lado, eu sei que você nem saiu das encrencas anteriores e já está tentando entrar em mais uma briga. Estou avisando, para seu próprio bem, não se meta com essa gente.
Apesar de tudo, gosto de você. E, pelo amor de Deus, não entre mais em confusão. Vê se ajuda a sua própria família. Ou você ainda  não percebeu qu alguns dos seus filhos estão com problemas enquanto outros não sabem o que fazer com tanto que têm...às vezes acho que você não é tão mau assim, talvez até um pouco ingênuo. Não sei...

Filho da América


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Estranhas Histórias
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