O
Homem da Casa
Era um trio interessante: A Bete, a Maria e
o Dinho. A Bete tinha um negócio, a Maria trabalhava numa firma de seguros e o
Dinho tinha um negócio na Internet. A Bete estava o tempo todo procurando o
amor de sua vida e a Maria também. O Dinho, eu não sei, só sei que ele era “gay”.
A Bete de vez em quando achava alguém mas logo se decepcionava – na verdade ela
não tinha muita sorte, e acabava
dispensando o namorado. A Maria também. Só que a Maria dispensava porque...bem,
como vou dizer? A Maria gostava de variar.
Quase toda tarde, no verão, quando o sol se
punha bem tarde, sentavam-se os três na calçada da rua em frente à “Cantina do Paraíso”.
Naquele dia, passou um fulano, do outro lado da rua, todo bem vestido, jovem e
firme em seu caminhar. Deu uma parada, olhou as vitrines, atravessou a rua e se
dirigiu a eles. Para dizer a verdade, se dirigiu a elas. Perguntou sobre um
endereço. As duas deram juntas a explicação, quase fizeram uma confusão, se
atrapalharam. O cara era bonitão e ele sabia como “jogar um charme” em cima das
meninas. Despediu-se, para desencanto delas, e partiu. Deu, porém, alguns
passos e voltou. Estendeu um cartão para Bete, jogou mais um sorriso malandro e
se foi. A Bete ficou em êxtase, a Maria com inveja e o Dinho muito desconfiado:
- Não sei não...
O cartão só tinha o nome dele e um número
de telefone. O Dinho argumentou: “Quem dá um cartão desse tipo?” E falou de
novo:
- Não sei não...
Fui tudo muito rápido. É lógico que a Bete
ligou, se encontrou e se apaixonou. Logo depois ele já estava metido nos
negócios dela, fazendo pedidos, tomando notas, recebendo, arrumando,
organizando. Todos sabiam que havia algo estranho. Todos menos a Bete. A Maria,
estava me esquecendo, se afastou, mordida com a “traição” da amiga. Dinho
consolou a Bete, dizendo, isso é passageiro, ela vai voltar. A Bete estava
triste com a amiga mas mesmo assim quis se certificar com o Dinho:
- O que é passageiro: o meu namorado ou a
minha briga com a Maria?
-A briga com a Maria, é claro...(lá por
dentro deu uma risadinha...)
A Bete ficou um pouco atrapalhada com os
negócios da firma. Ah, sim era um bufê: fazia festas de casamento, recepções,
coisas do gênero. Lá no fundo ela sabia que não era bom misturar negócios com
amor, principalmente assim, sem conhecer bem uma pessoa.
Ainda estava em uma fase de paixão aguda,
mas algo já a incomodava, lá no fundo. Até que um dia sumiu sua corrente de
ouro. Ouro legítimo, linda, presente de seu pai...além de valer uma nota. Não
podia ser seu namorado, impossível. Não era impossível, não. Lá no fundo, ela
sabia que era ele.
Naquele dia, mais tarde, lá estavam Dinho e
Bete conversando de novo na frente da cantina. Dinho logo percebeu que havia
algo de errado com a amiga e ficou cutucando até que ela se abriu. Ele falou:
-Eu sabia...
-Como você sabia? O quê você sabia?
-Não, o que eu quero dizer, é que eu sabia
que não ia dar certo.
Estavam ainda falando quando chegou o
namorado que, sorridente, deu um beijo na Bete e ignorou o Dinho. Dinho era
inteligente e auto-confiante e não se importou. A seguir Bete ficou perplexa
com o que Dinho fez. Ele levantou-se, pegou o “namorado” dela pelo braço,
levou-o para o outro lado da rua. Fez com autoridade, não houve reação. Bete
viu então que Dinho falava e falava. A seguir, o namorado da Bete enfiou a mão
no bolso e entregou algo para o Dinho, que voltou, não sem antes apontar o dedo
em sinal de advertência para o outro, que se retirou. Sentou-se novamente. Pegou
a mão da Bete e lá depositou a corrente de
ouro.
-Fique tranquila, ele vai embora e vai
devolver tudo. Você sabe que ele estava pegando seu dinheiro, também, não sabia?
A Bete sabia. Sorriu sem graça e ao mesmo
tempo aliviada.
-Meu Deus, como fui perder a minha amizade
com a Maria por causa de um traste como esse...?
-Não, você não perdeu..
Mal acabara de falar, lá aparece a Maria e lhe
dá um abraço:
-Oi, amiga!
E os três tiveram uma das tardes mais
gostosas dos últimos tempos. Um amigo às vezes é melhor do que uma
paixão...Dois amigos, então...
À noite, quando chegou em casa, a mala do
fulano não estava mais lá. Em cima da mesa, um envelope com umas contas, um
maço de dinheiro e um bilhete de desculpas.
Bete ficou pensando. O que será que o Dinho
falou para ele? De qualquer jeito, funcionou. Era bom ter um amigo, de verdade,
como o Dinho. É bom ter um homem de verdade como amigo... Ela morava sozinha
mas mesmo assim, o Dinho era o homem da
casa...
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