Wednesday, December 5, 2012

Larissa



Larissa
A tal da Larissa era a tal. Para ser sincero, ela era bonita mesmo, um espetáculo. Também era inteligente e esperta. Mais esperta do que inteligente , mas culta, não sei não...Acho que ela não teve muito tempo para ficar culta pois estava muito ocupada em ser...Larissa. Estava em todas, não porque era chamada ou gostasse, mas porque precisava. O que quero dizer é que ela precisava a todo momento provar que ela era a melhor. É importante dizer, e eu estava me esquecendo, que ela tinha também um “corpão”. Como as mulheres dizem, “homem é tonto”, e todos eles “babavam”, mesmo porque a cidade era muito pequena e não havia tanta concorrência assim. Dentre todos que a queriam, o que mais a queria era o Júnior. Acho que o Júnior faria qualquer coisa para namorar – naquela época o pessoal ainda namorava -  noivar e casar com ela. Ela sabia disso e sabia que havia uma lista. Ela tinha tanta certeza que conseguiria qualquer homem que quisesse, que achou que deveria tentar algo mais alto. E assim fez. Foi para a cidade grande, pois sabia que um grande futuro a esperava. Pelo menos no departamento de homens. Entretanto todos sabem que a cidade grande é um pouco diferente. Há muita tristeza e decepção por lá. As coisas não são o que parecem.
Eu poderia contar tudo o que aconteceu com a Larissa.  Todos os detalhes dos dois anos que ela passou lá. Mas foi tanta melancolia, dor, consternação, que  acho melhor pular esta parte. Se você está pensando “Por que ela não voltou?”, eu lhe digo o ser humano não gosta de aceitar derrota, de se humilhar.  Se não fosse assim, nos primeiros 15 dias ela já teria desistido. Não que a gente deva desistir de imediato de nossos ideais. O problema da Larissa é que ela estava lutando pela coisa errada. Se fosse uma luta boa, ela poderia lutar a vida toda, sempre vale a pena. Além disso quem disse que ela queria lutar? Ela só queria vencer. Vencer  sem esforço e logo de cara e ainda por cima por um objetivo que não era bem um objetivo. Demorou dois anos para se convencer de que era melhor se humilhar um pouco e retornar para o lugar onde ela era a rainha, a melhor.
E ela voltou e tinha planos. Como diz a música, “lavanta, sacode a poeira, dá a volta por cima”. Dessa vez ela tinha de acertar na primeira. Nada mais garantido que o Júnior. Todos sabem que esse tipo de paixão não vai embora fácil. Assim que chegou, consultou as pouquíssimas amigas que ainda tinha sobre o antigo admirador. Ficou então sabendo que o Júnior tinha se casado. Que absurdo, como ele poderia ter se casado com outra mulher? Bom, pensou ela, hoje em dia casamento não é nada, é só divorciar. Deu um jeito e se aproximou de Júnior no seu trabalho. Foi uma decepção total. O Júnior falou com ela só por educação – ele era um excelente rapaz – deixou claro que estava  feliz, muito feliz com seu casamento. Ficou claro que ele não queria nada com ela.
À noite, em casa, ela chorou. Não chorou por causa do Júnior, isso ela não faria. Olhou-se no espelho e, de repente, percebeu que ela não era mais a Larissa. Era uma mulher cansada, sofrida, envelhecida e sem brilho. Tinha tanta certeza de que era o máximo que se esqueceu de manter o brilho da vida.
Não havia nada para ela naquela cidadezinha e nada também na cidade grande. Entretanto ela voltou para lá, onde,  pelo menos,  ninguém iria notar a sua pequenez. Ficaria quieta em seu lugar e, quem sabe, conseguisse recuperar o brilho de seus olhos ao longo do tempo. Afinal agora ela sabia os segredos da grande metrópole. Em lugares pequenos a grandeza aparece com furor. Mas em lugares pequenos também a  mediocridade aparece com furor. Larissa aprendeu tudo isso a duras penas. Agora ela é apenas uma moça do interior lutando para vencer na vida na grande cidade!


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