Saturday, July 12, 2014

A felicidade pairando no ar



A felicidade pairando no ar


A felicidade estava à solta, por aí. Precisava, como os espíritos, de um corpo para se encostar. Tentou, primeiro, um engenheiro. Ele, porém, estava cheio de projetos, concretos, tinha de terminar. O médico, igualmente, estava naquela rotina sem fim: consultório, hospital, consultório. Às vezes, no meio, uma emergência. O advogado estava cheio de defesas para fazer e de processos para protocolar. Era como processava a vida. Uma mãe dedicada, essa sim, era uma candidata perfeita. Qual o quê! Estava tão preocupada com a felicidade dos filhos, em tanto lugar a procurava, que nem percebeu quando a verdadeira se aproximou. Ironia total: os filhos, aborrecidos com a chateação da mãe, aquela insana missão de fazê-los felizes, que nem se deram conta quando aquela alegria enorme passou bem perto, quase os atropelou.
Faltava o poeta, esse não podia falhar! A felicidade foi chegando perto de sua criadora imaginação para cutucar. Mas, ao lá chegar, se assustou. Estava cheia de problemas para contar. Histórias tristes ele tinha demais para poetar. Casos de depressão para transformar em rimas transversais. Até uma imaginária nota de suicídio tinha de escrever. Ela, a felicidade, se afastou logo dali.

Ficou, assim, pairando  no ar, sem uma pessoa onde morar. Acho que ainda está lá, mas, um dia, ela vai embora. Daí, então, se alguém dela precisar, vai ter de fazer um requerimento oficial, com firma reconhecida e nem cópia autenticada vai servir. Então é só esperar. Se for aprovado, depois de muito tempo, quem sabe, ela poderá voltar. E irá, então, para sempre, dentro de uma boa alma morar!

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 À procura de Lucas  (Flávio Cruz)

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