Os mortos e o respeito pela vida
(o respeito pelos
mortos só pode vir de quem respeita a vida)
Corpos caindo do céu
não é uma cena que se vê todos os dias, graças a Deus. Aconteceu, entretanto.
Consequência da barbárie humana, da incompreensão, do ódio. Por mais que alguém
queira lutar por uma pátria, por uma causa, existem limites. Por um motivo
muito simples. Como soldados que desejam construir uma nova ordem, uma nova
nação, vão responder a uma singela
pergunta: que tipo de civilização vai ser construída por seres que são capazes
de tal crime? Estou falando a respeito do avião da Malaysia Airlines abatido na
Ucrânia.
Os corpos dos
passageiros, todos sabem, foram recolhidos sem cuidado, sem respeito.
Finalmente foram recebidos pelos holandeses. Aí, então, começou a demonstração
do que é ser verdadeiramente civilizado. Dois aviões especialmente enviados
para a tarefa, levando 40 corpos de um um
total de quase 300, trouxeram as vítimas
de volta para a Holanda. Já no aeroporto, foram retiradas, uma a uma, com uma
verdadeira gala funeral, por homens vestidos especialmente para a ocasião. O
rei estava lá para recebê-las. Uma marcha fúnebre quebrou o silêncio, enquanto os
corpos em caixões, um a um, eram colocados cada um em seu carro funerário. Solenidade, delicadeza e respeito.
Inciaram a rota de mais de 60 milhas em direção a seu destino. Havia
cientistas, especialistas em saúde, e outros profissionais da área entre eles.
Antes de mais nada, porém, havia lá seres humanos. Ao longo da rota, a
população foi se aglomerando em grupos. Uns choravam, outros acenavam, todos
comovidos. Bandeiras a meio-pau balançando suavemente ao vento. Dos viadutos, flores eram jogadas. Uma emoção
difícil de se descrever. Um enorme respeito pelos mortos, que só pode vir de
quem respeita muito a vida.
Foi um dos maiores
contrastes entre bárbaros e civilizados de que já tive conhecimento em minha
vida.
<><><><><><><><><><><><>
À procura de Lucas (Flávio Cruz)
No comments:
Post a Comment