Retrato em branco e preto
Eu não conheci pessoalmente minha avó Etelvina, pelo lado paterno.
Tinha visto uma foto dela, no meio da família toda, quase sumida. Não dava para
ver o rosto, não dava para ver quase
nada. Ainda assim, eu gostava de olhar. Aquela mulher valente, que teve
quatorze filhos, só Deus sabe quantas lutas lutou.
Outro dia, porém, minha querida prima me passou uma foto só de rosto,
bem nítida, da avó. Eu me emocionei imediatamente. Ver aquele rostinho suave,
em branco e preto, o cabelinho arrumado, como se arrumava antigamente, foi
muito bom. Um véu preto cobrindo a blusa branca fechada em cima. Um sorriso que
não saiu, uma tristeza disfarçada? Tudo isto estava ali, esboçado, nos
lábios finos, fechados. Uma delicadeza
sem par. Talvez ela quisesse dizer alguma coisa. Talvez estivesse apenas
posando para a foto.
Gostaria tanto que ela pudesse ver os netos de seus netos e ver a
beleza que eles são. Gostaria que ela terminasse o sorriso que começou.
Gostaria que ela pudesse ver o bem que, talvez nem saiba, fez e espalhou.
Gostaria de, por alguns segundos, trocar umas palavrinhas com ela. É possível
amar em retrospecto? Eu não sei, mas é o que estou fazendo agora. Amando a
avó, daquele retrato em branco e preto, que eu nunca conheci...
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Novo lançamento no Clube dos Autores: Essa vida da
gente
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