A vaca
e os nhe-nhe-nhens
Uma
leitora sugeriu em um comentário sobre a crônica “Vamos fazer uma vaquinha” que
eu falasse sobre a expressão “a vaca foi para o brejo”. Eu já tinha lido sobre
o assunto mas fui pesquisar de novo, pois com o tempo e a idade, a gente
costuma misturar as coisas. Na verdade, a explicação sobre a origem da
expressão é bem simples. Antigamente, na época das secas, o gado, desesperado,
procurava por água nos brejos ou em lugares pantanosos. Pesados animais que são,
muitos acabavam ficando presos nos lamaçais. Os criadores tentavam socorrer as
vítimas, mas nem sempre conseguiam. Por isso quando dizemos que “a vaca foi
para o brejo”, queremos significar que a situação ficou difícil, praticamente
impossível de se resolver.
Coitada
da vaca. Ela não teve muita sorte na nossa história linguística. A outra
expressão “vaca de presépio”, também é negativa, atribuída a pessoas que não têm
vontade própria, que só fazem o que os outros mandam, como as estatuetas do
presépio. E quando chamam uma dama de “vaca”, então? É uma grosseria, cujo
significado nem preciso explicar. A vaquinha é um animal tão simpático, que eu
quero fazer um protesto com a escolha que o povo faz ao usar o nome de tão agradável
ruminante para expressões tão cruéis. Se eu pudesse, criaria uma metáfora bem
bonita para ela. Mas chega de nhe-nhe-nhem, que nós não temos tempo para isso,
nem as vacas também. Por falar no assunto, essa palavra, nhe-nhe-nhem, vem da
língua Tupi, da palavra “nheeng” que significa falar. Os índios se referiam aos
portugueses que ficavam falando, falando, coisas sem sentido, pelo menos para
eles. Nesse caso eu acho justo. Os índios tinham direito de menosprezar aqueles
invasores. Mas as vaquinhas, coitadas, não têm nenhuma culpa no cartório.
Aliás, “culpa no cartório” não tem nada a ver com os cartórios de hoje em dia.
Ela refere-se aos “cartórios” da época da Inquisição, mas como disse, por hoje
chega de nhe-nhe-nhem.
ooooooOOO0OOOooooo
Obs.: A crônica acima não pertence a este livro:
Essa vida da gente
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