Uma
fábula bacteriológica
Primeiro foram alguns porcos. Morreram sem marcas
de dentes ou sem machucaduras externas. Depois foram coelhos e outros bichos
pequenos. Era um mistério e aquele pequeno reino começou a ficar exaltado,
curioso e preocupado. O Lobo Mestre, que
era o mandachuva, tentou acalmar a população, dizendo que iria achar o inimigo
e dizimá-lo.
A coruja, inteligente e sábia, tentou estudar o
caso. Pesquisou, pesquisou. Disse a vários outros animais que aquilo era
provavelmente relacionado com a água suja que os porcos usavam e depois
deixavam correr no rio. Os verdadeiros inimigos eram praticamente invisíveis,
de tão pequenos, e eram chamados de bactérias.
Os porcos ficaram furiosos, ofendidos. Outros achavam
aquilo uma tolice. Como algum ser podia ser tão pequeno que nem dava para ver?
Conversa fiada, conversa de quem não tem o que fazer, como a coruja. Conversa
para boi dormir, embora não houvesse vacas ou bois por ali. O medo juntou-se
com a raiva e nem se podia dizer qual era mais forte. Salvo raríssimas
exceções, todos criticavam a coruja.
Inicialmente o Lobo Mestre chegou a pensar em
mandar a coruja vir até o palácio real e explicar melhor o que ela estava dizendo,
pois até agora suas palavras não faziam sentido. No entanto, diante do clamor
público, não o fez. Ao contrário, decretou que ela deveria ficar calada e além
disso decretou sua prisão domiciliar. Colocou até alguns lobos soldados e gaviões
ao redor da árvore em que morava, para garantir que a ordem de prisão fosse mantida.
Ainda assim, com toda a reprovação e clamor público, a palavra
bactéria espalhou-se por todo o reino. O Lobo Mestre não teve saída a não ser
proibir seu uso. Prisão para quem a proferisse e, para os animais que repetissem a dita cuja mais de uma
vez, ordenou que fossem condenados à morte.
Ninguém mais falou em bactéria. Só para garantir, o grande ditador também
decretou a palavra como inconstitucional, embora nem sequer tivessem uma constituição.
Só para garantir. Quem sabe no futuro, ele resolvesse fazer uma. Aí então, essa palavra horrenda nem teria
chance. Já pensou esse pessoal dos Direitos Animais começar a fazer exigências
do tipo “Direito das Bactérias” ou coisa assim? Mais vale um pássaro na mão do
que... O que fazia lembrar da coitada da coruja, que nunca deveria ter aberto o
bico sobre bactérias... Que absurdo, um animalzinho que ninguém consegue
ver... Onde se viu?
Não se sabe o que aconteceu no reino. Ninguém queria chegar lá perto para
não morrer. A última vez de que se teve notícia, muito animal havia morrido,
nenhum lobo, entretanto. A água deles vinha de fora, de outro lugar...
oooooOOO0OOOooooo
Estranhas Histórias
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Humm...não bebiam a mesma água humm
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