O
contador de histórias
Ele conta histórias que
nem viu. Conta outras que não deveria, nem poderia contar. Conta de um jeito
que faz a gente acreditar. Narra enredos improváveis, com personagens pouco
confiáveis, que nos assustam e, às vezes, nos encantam. Fala de coisas que não
conhece com a autoridade de um doutor. Fala até de mulheres sem pudor, de
homens sem amor. Fala de pecados sem perdão e faz com que perdoemos faltas que
não devem ser perdoadas. Ele nos leva para lugares recônditos que, desconfio,
nem existem. Mesmo assim, vamos para lá. Conta de pecados em igrejas, de almas
estranhas, e da pureza que está no feio. Parece até que é poesia o que está
fazendo, mas não é. Pinta cores no céu, que eu nunca vi. Prepara uma trama
feliz, mas quando você percebe, é uma tremenda de uma tragédia, o que se vê no
fim. Também encontra felicidade no meio das ruínas das almas, no meio dos
escombros da destruição. Não posso acreditar nele, é perigoso. Fico a viver
histórias que não são minhas, sofro sofrimentos que não são meus. E decido: não
vou mais ler. Logo depois, entretanto, não consigo me conter. Vejo-me lá, outra
vez, lendo: Era uma vez...
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