Harmonia
e paz, amém
A dona
Raquel, discreta, olha para o outro lado da rua pelas frestas da cortina. Lá
estão o seu Laurindo e a dona Arminda conversando. Parecem animados e
confidentes. Seria muito interessante saber o que estão falando. Na semana passada,
o seu Laurindo comentou com a Raquel que a Arminda é uma boa pessoa, uma
senhora educada, porém...Às vezes, porém, fala muito, não consegue parar e ele
tem coisas para fazer, precisa entrar. Ele não está ali para resolver problemas
de pessoas solitárias. Dois dias depois foi a vez da Arminda. Contou para a
Raquel que o seu Laurindo é um senhor muito simpático, mas não consegue cuidar
do próprio quintal. Não haveria problema se ficasse tudo por lá. Mas não. As
folhas, às vezes até alguns papeis, acabam caindo do seu lado. Isso não deveria
acontecer, ele devia ser mais cuidadoso.
A
Raquel ficou imaginando que, agora, é dela que estariam falando. Mesmo porque,
de vez em quando, olham para sua janela. O que será? Com certeza, um está
pedindo para o outro não comentar nada com ela, “que isso fique entre nós”...
Não
deveriam todos ser honestos e sinceros e falar a verdade uns para os outros?
Ficou então imaginando um mundo em que todos os seus conhecidos falassem o que
estão pensando. E pensou, e pensou...Imaginou tudo que teria de falar e tudo
que teria de ouvir.
Não
demorou muito para chegar a uma simples conclusão. Assim estava bem. Era só não
exagerar, manter as aparências. O mundinho dela e de todos à sua volta estava
tão equilibrado. Uma coisinha qualquer, um pequeno grão de areia, poderia
desequilibrar tudo.
Que
assim seja, pensou. A fofoca e a indiscreção de cada dia, nos permitam hoje,
mais uma vez. Que eu só ouça o que tenho de ouvir e fale o pouco que preciso
falar. Que o universo continue em harmonia e paz, amém!
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