Você
acha que é possível alguém se separar depois de velho? Trinta e cinco anos de
casamento?
Foi o
que aconteceu com meu grande amigo Lourenço. O pior mesmo é que a sua mulher é
minha amiga também. Que situação! Ainda bem que não houve aqueles rompantes de
fúria, de ódio. Não ficaria bem para nenhum dos dois. Afinal, modéstia à parte,
só tenho amigos distintos. Lá no fundo, minha solidariedade masculina está a me
sussurrar que ela tem mais culpa que ele. Não importa, porém, quem cometeu o
delito. O negócio, agora, é curar as feridas, cobri-las com algum unguento que
tire a dor, colocar alguns esparadrapos. Que se há de fazer?
Pelo
menos, o meu amigo diz que está bem, que, no final das contas, não doeu nada!
Foi até bom, ele arrisca dizer. Depois olho bem para a cara dele e percebo que
mal consegue conter as lágrimas. Tento contemporizar e falo:
-Um
pouco tem que doer, Lourenço. Afinal de contas são trinta e cinco anos...
Ele
disfarça, diz que já volta e dá uma saída. Mas demora mais do que o
normal...Lágrimas masculinas saem menos. Por isso mesmo, quando saem, doem
muito mais...
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