Tuesday, May 13, 2014

O óbvio


Quando eu era jovem – e isso já faz um bom tempo – adorava ler as crônicas do Nelson Rodrigues. A todo momento ele repetia a expressão “óbvio ululante”. Eu acho e achava que ela tem uma força extraordinária. Era como se ele ficasse irritado com as

 pessoas que não conseguiam ver o dito  cujo ( o óbvio, é óbvio) e as sacudisse. Com o tempo aprendi algo que não é tão óbvio assim.  Que ele ( ainda estou falando do óbvio) é sorrateiro, esperto e dissimulado. É a única explicação que consigo vislumbrar. Há tantas coisas no mundo que são tão claras, tão evidentes, que é impossível que as pessoas não as vejam, não as entendam. Eu mesmo, às vezes não consigo enxergar o que está – figurativamente ou não – bem debaixo de meu nariz. Tenho, porém, a desculpa da idade.

Desconfio, porém, de outra possibilidade.  A ganância e o interesse dos inescrupulosos. Eles certamente veem o óbvio e o entendem. Por interesses pessoais, por outros sentimentos escusos, fingem que não estão vendo nada. Mas que ele está ululando, irritado, ele está. O Nelson tinha razão.

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Novo livro  (ficção científica) no Clube dos Autores: À procura de Lucas  (Flávio Cruz)

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