A
Dona Aninha
Da minha casa, eu e
meu irmão do meio, tínhamos bronquite. Não sei se a culpa era do tal do DNA ou
se era o pó do cimento. Dava um aperto no peito, ficava tudo fechado, a gente
não conseguia respirar. E o chiado? Todo mundo achava que havia um monte de
gatos lá dentro. Era duro, um sofrimento. Naquela época ainda não havia aquelas
“bombinhas” miraculosas, que abriam os pulmões na hora. Ou, pelo menos, nós não
tínhamos acesso a elas.
O meu irmão, coitado, ficava pior do que eu. Acho que, às vezes, ele ficava até roxo.
Dava um medão na gente, pois aquilo era um mistério, não dava para entender. Às
vezes, quando a situação ficava muito grave, alguém levava a gente até a
enfermaria da Fábrica de Cimento.
Entretanto, na maioria
das vezes, a gente tinha socorro ali perto mesmo, umas duas ruas para trás. A
Dona Aninha. Era um milagre. Era só
chegar, ela já estava lá, fervendo as agulhas e as seringas numa latinha de
alumínio. Aquela injeção era tão boa que a gente nem ligava para a agulhada.
Vinha aquele cheiro gostoso de eucalipto na boca e depois, como num milagre, tudo se abria. Entrava aquele
monte de ar para dentro, como se fosse um tufão. Eu não sei onde ela aprendeu a
dar injeção, nem como. Para nós, entretanto, ela era a melhor e maior
especialista em vias respiratórias e pronto!
Às vezes, meu irmão
ficava tão atacado, que nem conseguia andar. O outro meu irmão, ou meu pai,
então, colocava o paciente num carrinho de madeira, daqueles de uma roda só na
frente, e ele era “transportado” até a casa da Dona Aninha. Tudo mudou. Quem
leva, agora, um doente num carrinho de madeira?
A imagem, entretanto,
fica sendo projetada, vez ou outra, na minha cabeça. Existem coisas que a gente
nunca esquece...
No comments:
Post a Comment