O
depósito da Antárctica
Foi
um de meus primeiros empregos. Eu me sentia muito importante. Além do mais, uma
moleza, era pertinho de casa. Eu fazia os “mapas” de entrada e saída de bebidas
do depósito da Antárctica. Caixas de Pilsen Extra, caixas de Malzbier, de
Guaraná, de Soda Limonada e até de Club Soda. Só mais tarde eu aprendi para que
esta última servia.
Era
uma folha enorme, pegava a mesa inteira. Chegava o caminhão da fábrica, eu
registrava as caixas, saíam os caminhões para os bares e vendas, eu registrava
a saída. Tudo no lápis e na borracha. A soma das colunas de saída e entrada era
na calculadora. Era daquelas antigas, mecânicas, com uma manivelinha do lado.
Quando alguém a estava usando, ia no lápis e papel mesmo, e era aí que eu me
tornava realmente importante. Excel e outros programas, nem nas excelentes cabeças
dos autores de ficção científica. Computadores? Nem aqueles de cartões perfurados. Bons tempos, hein? Quer
dizer, em alguns aspectos, sim. Era ou não uma coisa essencial o que eu fazia? O meu patrão e dono do
negócio era o “seu” Garcia. Havia vários motoristas, um deles era o Idabir, dele
eu me lembro.
Nessa
época, tive minha primeira lição de “marketing”. Para ter direito ao “Guaraná
Antárctica”, o comerciante precisava comprar as cervejas. Represália contra a concorrente
que só vendia a sua famosa cerveja se o estabelecimento também comprasse o não
tão famoso Guaraná da Brahma. Não havia moleza e o “seu” Garcia não estava lá
para brincar, não. Eu era muito novo ainda e nem sei se fazia meus mapas
direito. Por outro lado, desconfio que ele tinha tudo na cabeça, caixa por
caixa. Mais tarde, o depósito foi para um lugar muito maior.
Para
vir trabalhar era fácil. Andava um pouco pela Dona Rosina, rua da minha casa, lá
em cima, e depois”rolava” morro abaixo até chegar na “Fiorelli Peccicacco”. Na
verdade eu vinha quase “caindo”, tão íngreme era o percurso. A ladeira, na
época, era uma mistura de pequenas escadas, rampas e curvas. Quando chovia,
virava um pequeno rio, cheio de buracos. O duro mesmo era subir de volta. Mas
que encurtava o caminho, encurtava. Se viesse pelo Morro do Cartório e pela
Praça, era quatro vezes mais longe. Até olhei no Google Mapas, nem sequer nome
para a ladeira puseram lá.
Minha
“carreira”, como “mapista da Antárctica”, foi curta, mas foi muito boa, nunca
esqueci. Muito tempo passou e vejam só o que aconteceu: a Antárctica e a Brahma
acabaram ficando juntinhas, “de mãos
dadas”. Uma pena que nem tudo é assim. Muita gente e muitas coisas acabaram de
distanciando para sempre, como essas mesmas lembranças que acabo de narrar. É a
vida, não é?
ooooooOOO0OOOooooo
A crônica acima não faz parte do livro abaixo
Essa vida da gente
Para adquirir este livro no Brasil
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