Deus
nos livre dos loucos de hoje em dia
Meus
olhos infantis não entendiam aquele homem e seus gestos estranhos. Olhava com
aquele olhar perdido para algum ponto que só ele via. Mexia lentamente com os
dedos, como se eles fossem as asas de um pássaro e murmurava em tom de
confidência: pomba branca, pomba branca. Tinha um sorriso infantil, inocente.
Isso
é tudo que me lembro dele, do meu tio. Ele tinha uma doença mental e minha
santa mãe cuidava dele, porque ele era irmão de meu pai e ela sentia que era
seu dever. Se não fosse, ela cuidaria do mesmo jeito.
Para
mim, isso era loucura: olhar um olhar vago, mexer os dedos e imaginar uma pomba
branca. E é por isso que não entendo os loucos de hoje em dia. Desvairados,
armados, matam dezenas de pessoas em atos de fúria. Enchem-se bombas e
explodem, matando-se e matando os inocentes que passam. E há uma grande
variedade deles. Um verdadeiro circo de horrores.
Este
último, então, vindo diretamente da Europa, símbolo da civilização, foi demais.
Arremeteu o avião em direção às duras rochas das montanhas, matando 150 passageiros.
Estávamos comentando entre amigos que ele é o que se chama de suicida-homicida.
Falando assim, parece até que há um certo equilíbrio. O problema é que ele é
150 vezes homicida e somente uma vez suicida. Matemática macabra.
O
que aconteceu com aqueles louquinhos simpáticos que não prejudicavam ninguém?
Acho que não existem mais. Tudo muda. Estamos num mundo doido de verdade. Deus
nos livre dos loucos de hoje em dia.
ooooooOOO0OOOooooo
Essa vida da gente
Para adquirir este livro no Brasil
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