Éramos sete
Não sei como aconteceu, mas subitamente lá estávamos nós sentados em
círculo numa enorme sala, toda pintada de branco. Nossas cadeiras, de madeira
envernizada e acolchoadas com um tecido com temas de folhas, se destacavam
diante de ausência de mais cores. Nossas roupas eram parecidas, mas não eram
iguais. Não me lembrava como tinha chegado ali, apenas sabia que minha vida não
tinha nada a ver com aquilo e estava diante de uma situação excepcional.
Diante do silêncio dos outros seis – éramos sete – tentei falar alguma
coisa. Perguntei, quase murmurando, se eles sabiam onde estávamos. Olhei para
eles e ninguém se mexeu, ninguém falou nada. Logo depois, porém, percebi que
estavam respondendo. Sem som, sem ruído, estavam se comunicando através do pensamento.
E eu podia saber exatamente quem estava falando e o quê. Basicamente a resposta
de todos era a mesma. Como eu, não tinham a menor ideia de que lugar era
aquele, como tinham ido parar ali. O terceiro à minha esquerda me perguntou
silenciosamente de onde eu era. Respondi que era de São Paulo e, mesmo sem que
eu perguntasse, ele me disse que era da Hungria. Mostrei minha admiração pelo
fato de que ela falava Português, ao que ele respondeu que não era o que ele
estava falando. E assim todos foram
falando de onde eram e a língua não importava, todos entendiam em suas próprias
línguas. Depois de algum tempo conversando, todos nós concordamos que
precisávamos sair dali, voltar às nossas vidas normais. Foi, então, que algo
extraordinário ocorreu. Alguém disse que sairíamos dali, assim que todos os sete
dessem a mesma resposta para as perguntas que iriam ser feitas. Não era nenhum
de nós falando. Certamente era a pessoa ou ser responsável por estarmos ali.
A primeira pergunta que ele fez foi "qual era a cor mais bonita? ". Imediatamente falei que era o azul. Mais dois falaram o mesmo que eu,
outros dois disseram amarelo e os dois restantes optaram pelo vermelho. Nossas
respostas vinham sempre ao mesmo tempo e só depois percebíamos o que os outros
tinham falado. E as perguntas continuaram. Qual o sentimento mais bonito? Qual
o tipo mais desprezível de homem? Qual a qualidade mais importante em uma mulher?
Nunca conseguíamos ter as mesmas 7 respostas. Aquilo estava nos
exasperando. O máximo a que chegávamos era ter seis iguais.
Muito tempo se passou e ainda estamos aqui. Mal nos conhecemos, estamos
juntos todos os dias, o tempo todo tentando igualar nossas falas. Eu,
particularmente, desisti completamente de voltar para o lugar de onde vim. Na
verdade, nem me lembro mais de onde sou. Se um dia, por um grande milagre,
conseguirmos, nós sete, falarmos a mesma coisa, acho que, voltando, nem vou
reconhecer o meu ponto de origem.
Enfim, todos nós respondermos do mesmo jeito, é algo que
nunca vai acontecer. É um fato consumado, já aceitei. Talvez se fôssemos 5 ou
3, tivéssemos alguma chance, mas sete? E por que sete? Acho que é porque está na
Bíblia, é um número sagrado. Um número divino: sete pragas, sete pecados, sete
virtudes. Talvez seja isso mesmo. Somos humanos, nunca vamos conseguir!
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