Boa vizinhança
O
sr. Williams gostava de morar ali. Viúvo e aposentado, já com uma certa idade,
não queria saber de confusão, de barulho, de gente tocando a campainha. Seus
vizinhos, então, eram perfeitos. O casal Carter não poderia ser melhor. O
marido saía só de vez em quando, fazia alguma coisa na frente da casa e entrava
de novo. Se visse o Williams, falava um “Hi”, um bom dia, uma boa tarde. A sra.
Williams, saía menos ainda. Como o marido, sempre sorria e cumprimentava. Eram, ao
todo, três cabeças brancas, cumprindo a última etapa da vida, sem maiores
compromissos. Não queriam aborrecimento de ninguém e não queriam aborrecer
ninguém. Perfeito para o sr. Williams: cada um cuidando da sua própria vida.
Houve
uma época, porém, em que a sra. Carter era pouco vista. Certamente não estava
se sentindo bem e evitava sair. Umas duas vezes o Williams chegou a ver uma
cabecinha branca de mulher entrando de volta na casa. Mas não poderia garantir
se era ela. Estava um pouco diferente. Podia ser uma irmã, uma parenta. Talvez,
um dia, pudesse perguntar ao sr. Carter, mas tinha medo de incomodar. Por outro
lado também temia que ele começasse a conversar muito e a coisa pudesse
evoluir. Queria sossego e deixou um tempo passar.
Um
dia, ao voltar de uma de suas andanças – precisava não enferrujar – viu que seu
vizinho Carter estava descarregando uns móveis. Talvez estivesse cansado dos
velhos. Foi tudo muito rápido e o caminhão partiu. Nos dias seguintes, o sr.
Carter continuou cumprimentando-o como sempre. Parecia, no entanto, mais jovial, mais alegre. Talvez
agora fosse uma época boa para perguntar
sobre a sra. Carter. De passagem, é
claro, sem prolongar o diálogo. Ele e seu vizinho tinham mais o que fazer. Talvez
pudesse aproveitar e perguntar quais eram seus primeiros nomes. Afinal de contas
moravam perto há anos e só sabia seu sobrenome.
Não
precisou. Num dia bonito de sol, enquanto preparava-se para sua caminhada
matinal, o sr. Williams ouviu a campainha
tocar. Que ousadia, quem se atrevia a atrapalhar a sua rotina? Abriu a porta
com cara de poucos amigos e lá estava o sorridente Carter com um envelope na
mão. O carteiro, por engano, havia deixado a correspondência em sua casa e ele
estava devolvendo. Muito obrigado. O senhor é muito gentil. Sempre estou para
perguntar, qual é mesmo seu primeiro nome? Jeff, Mark, Bob, Tom? Assim foi a
conversa. Tinha de ser prático, eficiente e , principalmente, rápido. Afinal
depois de tantos anos...
Foi
aí que o Carter retrucou que não, só estava ali há algumas semanas. Seu irmão
gêmeo, o outro Carter, havia falecido,
ele não sabia? Ele não era o Carter que ele pensava.Como poderia, eles eram idênticos! A casa estava vazia e ele
morava lá para o Norte – um frio desgraçado – resolvera se mudar e ocupar a
casa fraterna. Antes que ele perguntasse, o Carter irmão explicou que a sra.
Carter – cunhada - havia falecido também, há uns três anos, e foi uma questão de tempo, o
marido também ir para outro lado. Não é assim que sempre acontece, homem viúvo
não dura muito tempo?
Foi
um vexame não saber o que estava acontecendo com os vizinhos nos últimos três anos.
Mas o sr. Williams não ficou envergonhado. A sra. Carter morreu, o sr. Carter
mudou para o outro lado da existência também, e o irmão Carter, outro Carter,
mudou-se para um lugar mais quente. Foi isso que aconteceu, como ele poderia
adivinhar? Que lugar agitado, quem
aguenta um movimento desses? Tudo isso acontecendo ali, bem ao lado, e o sr.
Williams não sabia de nada. Para ele, sempre estiveram ali o sr. e a sra.
Carter, sorridentes, cabelos alvos, bom dia, boa tarde, vou bem, obrigado.
Ainda
bem que o sr. Williams não percebeu. Se tivesse, a rotina dos seus últimos três
anos estaria completamente arruinada. Vizinhança boa, essa, não é o que o sr.
Williams sempre fala?
Infelizmente esse é o nosso relacionento com os vizinhos.... e o Bobby estará melhor? Morreu? Divorciou?
ReplyDeleteÉ a triste realidade na terra dp Tio Sam...
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