Sunday, January 19, 2014

Um amor quase verdadeiro

Um amor quase verdadeiro


Selena olhava cartas antigas, cuidadosamente guardadas em uma caixa de madeira. De repente se deparou com uma que tinha recebido de Leonardo logo depois de abandonar Colina Alta, sua cidade natal. Ela tinha rompido o namoro de mais de 6 anos. Ele continuou tentando, por muito tempo, reconquistar seu coração. Na verdade ela não desgostava dele, apenas queria conhecer melhor o mundo, ter novas experiências. O fato é que se deu mal. Após vários casos com homens de tipos bem diferentes, só  teve desilusão, traição, e dor. Ao ler aquela declaração de amor novamente, seu coração ficou tocado e, quase imediatamente, resolveu voltar para Colina Alta. Ela sabia que ele nunca tinha saído de lá. Quem sabe? Antes, porém, leu e releu a velha missiva:

“Amada Selena:
Colina Alta, 19 de setembro de 1992

Nem sequer guardo rancor por causa de sua partida. Amor é assim. Sem vingança, sem mágoa, sem ressentimento. Se assim não fosse, não teria sido amor, teria sido, sim, amor próprio. Vá viver sua vida e se encha de felicidade. Que seus sonhos, pequenos e grandes, se tornem uma viva realidade. Vá com cuidado, porém, a vida é cheia de perigos, cheia de armadilhas. E nem todos são como eu. Não se deixe enganar por um falso amor. Lembre-se que paixão e carne não são o mesmo que amor verdadeiro. Eu sei que você é esperta mas, mesmo assim,  me preocupo. Tanto engano existe por aí, meu amor, meu ex-amor, que é difícil não se deparar com eles. Esteja preparada.
Olhe bem fundo nos olhos de quem lhe jurar amor. Bem fundo. Se você conseguir ver o que viu nos meus olhos, amor será. Mas duvido que isso vá acontecer, pois, igual ao meu, nunca você vai encontrar.
Se um dia, desanimada da vida, você descobrir que só falsidade tem acompanhado seus dias, pode voltar. Eu sempre amei você e sempre vou amar. Estarei esperando...Pode voltar, querida!
Leonardo, aquele que sempre a amou e que sempre vai amá-la!”      

Quase chorou. Ele, o coitado do Leonardo, deve ter sofrido. Sabia que ele tinha um grande coração.
Colocou um  pouco de roupas numa maleta, pegou o ônibus e se foi. Procurou sua velha amiga na pequena cidade e se hospedou lá. Não tinha falado com ela sobre  a verdadeira razão da viagem. Disse apenas que gostaria de recordar os velhos tempos. Depois de ser recebida, tomar um banho e apreciar um bom almoço, ambas sentaram-se na varanda. Foi aí que mostrou a carta e confessou para  a amiga o verdadeiro objetivo de sua presença. Enumerou, também, todos seus frustrados relacionamentos. A amiga suspirou, segurou suas mãos e disse:
-Sinto muito por você, Selena. Mas tenho de aconselhar. Nem tente. Ele está casado, tem dois filhos lindos, e adora a esposa. Todo mundo tem inveja do casamento deles. Sem chance.
Selena olhou desiludida para o céu lindo que se desvendava diante delas e exclamou:
-Droga! Droga de vida!
Depois de algum tempo, abraçou a amiga, chorou um pouco e foram passear. Dois dias depois, arrumou suas coisas e voltou. Afinal de contas, o amor de Leonardo não era tão verdadeiro assim, pensou. Traidor! Ou talvez ele fosse do tipo que gostava de amar, não importava a quem?
Agora era sua vez de ficar desiludida. “Estarei esperando...Pode voltar, querida!”... Conversa fiada...
Corações humanos, quem consegue entendê-los?



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