Um
amor quase verdadeiro
Selena
olhava cartas antigas, cuidadosamente guardadas em uma caixa de madeira. De repente
se deparou com uma que tinha recebido de Leonardo logo depois de abandonar
Colina Alta, sua cidade natal. Ela tinha rompido o namoro de mais de 6 anos.
Ele continuou tentando, por muito tempo, reconquistar seu coração. Na verdade
ela não desgostava dele, apenas queria conhecer melhor o mundo, ter novas
experiências. O fato é que se deu mal. Após vários casos com homens de tipos
bem diferentes, só teve desilusão,
traição, e dor. Ao ler aquela declaração de amor novamente, seu coração ficou
tocado e, quase imediatamente, resolveu voltar para Colina Alta. Ela sabia que
ele nunca tinha saído de lá. Quem sabe? Antes, porém, leu e releu a velha
missiva:
“Amada
Selena:
Colina Alta, 19 de setembro
de 1992
Nem
sequer guardo rancor por causa de sua partida. Amor é assim. Sem vingança, sem
mágoa, sem ressentimento. Se assim não fosse, não teria sido amor, teria sido,
sim, amor próprio. Vá viver sua vida e se encha de felicidade. Que seus sonhos,
pequenos e grandes, se tornem uma viva realidade. Vá com cuidado, porém, a vida
é cheia de perigos, cheia de armadilhas. E nem todos são como eu. Não se deixe
enganar por um falso amor. Lembre-se que paixão e carne não são o mesmo que
amor verdadeiro. Eu sei que você é esperta mas, mesmo assim, me preocupo. Tanto engano existe por aí, meu
amor, meu ex-amor, que é difícil não se deparar com eles. Esteja preparada.
Olhe
bem fundo nos olhos de quem lhe jurar amor. Bem fundo. Se você conseguir ver o
que viu nos meus olhos, amor será. Mas duvido que isso vá acontecer, pois,
igual ao meu, nunca você vai encontrar.
Se
um dia, desanimada da vida, você descobrir que só falsidade tem acompanhado
seus dias, pode voltar. Eu sempre amei você e sempre vou amar. Estarei
esperando...Pode voltar, querida!
Leonardo,
aquele que sempre a amou e que sempre vai amá-la!”
Quase chorou. Ele, o coitado
do Leonardo, deve ter sofrido. Sabia que ele tinha um grande coração.
Colocou um pouco de roupas numa maleta, pegou o ônibus e
se foi. Procurou sua velha amiga na pequena cidade e se hospedou lá. Não tinha
falado com ela sobre a verdadeira razão
da viagem. Disse apenas que gostaria de recordar os velhos tempos. Depois de
ser recebida, tomar um banho e apreciar um bom almoço, ambas sentaram-se na
varanda. Foi aí que mostrou a carta e confessou para a amiga o verdadeiro objetivo de sua
presença. Enumerou, também, todos seus frustrados relacionamentos. A amiga
suspirou, segurou suas mãos e disse:
-Sinto muito por você,
Selena. Mas tenho de aconselhar. Nem tente. Ele está casado, tem dois filhos
lindos, e adora a esposa. Todo mundo tem inveja do casamento deles. Sem chance.
Selena olhou desiludida para
o céu lindo que se desvendava diante delas e exclamou:
-Droga! Droga de vida!
Depois de algum tempo,
abraçou a amiga, chorou um pouco e foram passear. Dois dias depois, arrumou
suas coisas e voltou. Afinal de contas, o amor de Leonardo não era tão verdadeiro
assim, pensou. Traidor! Ou talvez ele fosse do tipo que gostava de amar, não
importava a quem?
Agora era sua vez de ficar
desiludida. “Estarei esperando...Pode voltar, querida!”... Conversa fiada...
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