A
mulher que controlava
Ela
controlava tudo. A casa, os negócios do marido e, principalmente, o próprio
marido. Coitado do Amarildo, em nada podia opinar. Todo mundo já estava
acostumado. Ela mandava, todos obedeciam. Mandava fazer, era feito. Mandava
desfazer, era desfeito. Feito um espião, passava um olhar certeiro por todo
lugar. Fazia, desfazia, mandava fazer de novo, para depois dizer que ainda não
estava bom. O Amarildo não era nada. Se tentasse ser alguma coisa, num instante
ela o faria desistir.
Não
sei se foi por isso, se por outras coisas mais, um dia ele teve um ataque do
coração. Talvez fosse coincidência, ele já tivesse um problema assim. Aquela
coisa toda: choradeira, funeral, enterro. E todo mundo se esqueceu rapidamente do
Amarildo. De qualquer jeito, quando vivo, já ninguém se lembrava mais do
coitado. Ironicamente, quem mais sentiu a falta, foi ela. Não tinha mais em
quem mandar. Nem quem controlar. Foi
sentindo um vazio enorme, uma falta de graça pela vida. Até comentaram, está
vendo, ela era assim, mas amava o marido.
Nada
disso, posso garantir. Ela amava era o seu jeito de mandar e o jeito do
Amarildo obedecer. Tem gente que é assim.
Pois
é, a festa acabou, não há mais nada, nem mais ninguém para controlar, nem ser
controlado.
<><><><><><><><><><><><><>
<><><><><><><><><><><><><>
No comments:
Post a Comment