Wednesday, August 20, 2014

O sono dos justos


O sono dos justos

O soldado, cheio de sangue e suor, recebe ordem de retirar. Os americanos tinham invadido um reduto de vietcongs no meio da mata. Morreram e mataram. Ele, no entanto, procurava não acertar, não queria matar. Ferido, mas não muito, começa a se mover. É um dos últimos. Parece que os inimigos ou tinham morrido, todos, ou tinham se retirado também.
Corpos no chão, sangue derramado, uma cena infernal. Um pouco à frente, à sua esquerda, vê um arbusto se mexer. Aponta a arma e sente urgência de atirar. Consegue se conter e se aproxima. Afasta as folhas e vê, escondido, um soldado inimigo com sangue correndo pela testa. Tremendo, cheio de pavor. Mais novo que ele, quase um menino. Olha para os lados e para a frente. Ninguém os vê, todos se concentram em sair dali. Olha para aquela criatura frágil, amedrontada, mais que ele ainda, e faz um sinal. Põe o dedo nos lábios e pede silêncio. Vai seguindo, deixando o inimigo para trás sem atirar. Por segurança, olha, de vez em quando para o lugar. A folha não se move mais. Lá dentro, o quase garoto suspira aliviado.
James Dooley, esse era seu nome, vai caminhando até perdê-lo de vista. Pode se ver um sorriso enorme se desenhar em sua face. O sorriso de quem fez o bem.
A Guerra do Vietnã estava na sua parte mais cruel.
À noite, o soldado descansa. Está feliz, bem ali, no meio da guerra. É uma das melhores noites de sua vida e ele nunca vai esquecer. Dorme o sono mais gostoso da batalha, dorme o sono gostoso da paz.

<><><><><><><><><><><><><> 

Essa vida da gente

(crônicas e contos sobre o cotidiano)







<><><><><><><><><><><><><> 


No comments:

Post a Comment