O
sono dos justos
O
soldado, cheio de sangue e suor, recebe ordem de retirar. Os americanos tinham
invadido um reduto de vietcongs no meio da mata. Morreram e mataram. Ele, no
entanto, procurava não acertar, não queria matar. Ferido, mas não muito, começa
a se mover. É um dos últimos. Parece que os inimigos ou tinham morrido, todos, ou
tinham se retirado também.
Corpos
no chão, sangue derramado, uma cena infernal. Um pouco à frente, à sua
esquerda, vê um arbusto se mexer. Aponta a arma e sente urgência de atirar.
Consegue se conter e se aproxima. Afasta as folhas e vê, escondido, um soldado
inimigo com sangue correndo pela testa. Tremendo, cheio de pavor. Mais novo que
ele, quase um menino. Olha para os lados e para a frente. Ninguém os vê, todos
se concentram em sair dali. Olha para aquela criatura frágil, amedrontada, mais
que ele ainda, e faz um sinal. Põe o dedo nos lábios e pede silêncio. Vai
seguindo, deixando o inimigo para trás sem atirar. Por segurança, olha, de vez
em quando para o lugar. A folha não se move mais. Lá dentro, o quase garoto
suspira aliviado.
James
Dooley, esse era seu nome, vai caminhando até perdê-lo de vista. Pode se ver um
sorriso enorme se desenhar em sua face. O sorriso de quem fez o bem.
A
Guerra do Vietnã estava na sua parte mais cruel.
À
noite, o soldado descansa. Está feliz, bem ali, no meio da guerra. É uma das
melhores noites de sua vida e ele nunca vai esquecer. Dorme o sono mais gostoso
da batalha, dorme o sono gostoso da paz.
<><><><><><><><><><><><><>
<><><><><><><><><><><><><>
No comments:
Post a Comment