Como
se faziam as coisas antigamente: o “Requerimiento”
Por volta dos anos 1500,
Espanha, Portugal e outras grandes nações, dominavam os mares. Atravessavam o
Atlântico em busca do que seria conhecido como a América. Vinham em nome de
Deus e de seus soberanos. Cada uma dessas nações tinha sua peculiar maneira de
‘tomar posse”, conforme Patricia Seed descreve em seu livro “Ceremonies of
Possession in Europe's Conquest of the New World, 1492-1640”. A Espanha, porém,
tinha um método muito interessante: era o chamado “Requerimiento”. Quando eles
estavam chegando perto da praia, na iminência de uma grande conquista, eles
liam em voz alta um documento que tinha esse nome. Era uma espécie de aviso, de
anúncio. Falavam que seu rei, em nome de Deus, estava ali para converter os
índios, ou quem estivesse morando ali. Claro, o documento era lido dentro do
navio e em espanhol. Obviamente, os “gentios”, se estivessem na praia, o que
era raro, não poderiam ouvir a declaração. Se pudessem ouvir, não entenderiam,
pois estava em espanhol, que não era sua língua. Mas o o “Requirimiento não era
só isso. Advertia que se eles não se convertessem para o Cristianismo, de
imediato, poderiam ser escravizados, e sua terra seria tomada, o que sempre
acontecia, obviamente.
O “Requirimiento” nada
mais era do que uma justificativa para a consciência coletiva do invasor para
suas barbáries. Tudo em nome de Deus. Nós todos sabemos o que aconteceu depois,
durante a colonização, com os índios e com os escravos trazidos mais tarde.
Faz muito tempo e
ninguém fala mais nisso. Recentemente, porém, estamos ouvindo sobre atrocidades
cometidas, desta vez contra os cristãos no Iraque. Ironia histórica. Se não se
convertem, são sumariamente assassinados por um grupo de terroristas religiosos.
Talvez sejam menos humanos que os espanhóis. Esses pelo menos liam antes o
“Requerimiento”. Ou será que existe um
documento equivalente em árabe?
Se colocarmos à parte
esse e outros absurdos, o mundo melhorou muito nesses últimos 500 anos. Ainda
assim, daqui a outros 500 anos, outro cronista, do futuro, vai estar falando
sobre tanta estupidez cometida por nós e que agora nem percebemos. Vai rir e debochar.
Vai desprezar, como nós em relação a nossos antepassados, as atrocidades levadas
a cabo em nome da religião e da civilização, além de outras mais. Todas, em sua
época, consideradas normais.
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