Friday, January 29, 2016

Uma cidade chamada “Facebook”


Uma cidade chamada “Facebook”



O moço, simples, acanhado, não tem amigos, só tem conhecidos do tipo “olá, como vai?”.  É triste ser assim, ele muito bem sabe, precisa mudar. Foi daí que ouviu falar do Facebook. Entrou, "perfilou", pesquisou. Envergonhado de tudo que era e fazia, falou quase nada de si. Estava, entretanto, orgulhoso. Orgulhoso não, esperançoso. Procurou na Internet por mais de três horas algo para postar. Achou algo supimba e uma foto mais legal ainda. Postou. Requisitou três amigos que já eram seus conhecidos, não podia falhar. Ou podia?
Daí esperou. A cada cinco minutos, dava uma olhada e nada. Passaram-se as horas e chegou a noite. Era já tempo de dormir e deu mais uma olhada. Havia um ‘curtir” e um “compartilhar”. Pessoal do escritório onde trabalhava. Foi uma felicidade sem par. Foi dormir, todo excitado. Finalmente apagou. Sonhou. Estava em um conversível, amarelo berrante e agressivo, entrando numa cidade. A placa dizia bem claro, em Inglês: “Facebook City”. Entrou glorioso, direto pela avenida central. Havia milhares de pessoas dos dois lados, aclamando, acenando e, certamente, com "tablets" na mão. Tiravam fotos suas. Ele, majestoso, num fraque de divino azul e camisa branca de seda. Um gravata violeta balouçando ao vento. E as pessoas postavam as fotos. E as pessoas curtiam as fotos. E as pessoas comentavam sobre as fotos. E as pessoas compartilhavam as fotos. Ele era agora, o rei das redes sociais. De repente alguém gritou: “Tuíta por favor!”. Então ele, com a mão esquerda no volante cor de marfim e com a direita segurando um android dourado, começou a tuitar. Tuitou desatinado. Ao longe, ele podia ver o final da avenida, o final da cidade e, também, o final de seu sonho. Sabia que a manhã estava chegando e ele iria parar de sonhar. Iria voltar para sua costumeira posição. Entre milhões de outras, ele seria, novamente, uma página normal, banal,  na extensa rede social.

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